Dez anos sem Fernanda Ellen: menina que sonhava ser médica completaria 22 anos em 2023

8 abr 2023 - Paraíba

Fernanda Ellen foi morta em 2013, em João Pessoa — Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

A estudante Fernanda Ellen sonhava em ser médica. Gostava de se maquiar e fotografar, então desejava fazer um curso de modelo. Ela completaria 22 anos em maio de 2023. Mas aos 11 anos de idade, Fernanda foi encontrada morta, na casa de um vizinho da família, em João Pessoa. Foi há 10 anos, na noite do dia 8 de abril de 2013, três meses após desaparecer quando voltava da escola no bairro Alto do Mateus.

Nanda, como era chamada, era muito carinhosa, alegre e fazia amizade facilmente com todos que conhecia. O sonho da menina era fazer faculdade de medicina.

“Ela falava muito sobre isso, mas só para ter a experiência. O sonho dela mesmo era ser médica. Hoje com certeza já estaria na faculdade, porque ela era muito dedicada, mas infelizmente esse sonho foi interrompido”, relembra Elizangela Miranda, mãe de Fernanda Ellen.

A mãe de Nanda relata que seguir em frente sem a filha foi muito difícil. Toda família ficou abalada, mas precisaram criar forças para continuar por causa do filho mais novo, que na época do crime tinha 3 anos. “É uma lacuna que não é preenchida nunca”, conta Elisângela.

Fazer as coisas rotineiras sem Fernanda foi um longo processo para a família de Fernanda. Por muitas vezes o irmão mais novo ia até o quarto da menina procurando por ela e a mãe até hoje acorda às 5h da manhã, como fazia para organizar as coisas do colégio. O pai, Fábio Junior, caminhoneiro, até hoje precisa tomar remédios e voltar para a estrada foi complicado.

“A gente passou muito tempo sem sair de casa porque a gente não conseguia ir a determinados lugares que lembravam ela. Eu não me sinto à vontade em fazer feira ou a papelaria sem Fernanda”, relata Elizângela, pois eram os locais que mais costumam ir juntas.

Elizangela escolheu lembrar dos momentos bons com a filha, como quando assistiam filmes juntos, para que essa saudade amenizasse um pouco. Dez anos já se passaram e muitas pessoas esqueceram, mas Elizângela e Fábio convivem com as memórias diariamente.

Perto do suspeito completar um terço da pena determinada pela justiça, a mãe afirma que é revoltante pensar na possibilidade de Jefferson Soares ganhar as ruas. “Será que a vida da minha filha vale só 10 anos?”, se pergunta.

Atualmente, o acusado continua preso em regime fechado, cumprindo a sentença na Penitenciária de Segurança Máxima Doutor Romeu Gonçalves de Abrantes, PB1.

Caso Fernanda Ellen

Fernanda Ellen Miranda Cabral de Oliveira foi vista pela última vez saindo da escola de blusa rosa e short azul, após buscar o boletim e comemorando a aprovação. No dia seguinte, a família da estudante registrou o desaparecimento de Fernanda na Delegacia da Criança e do Adolescente.

Corpo foi encontrado enrolado em piscina de plástico infantil no quintal do suspeito — Foto: Francisco França/Secom-PB

No dia 11 de janeiro, uma ação integrada envolvendo pelo menos 70 homens da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e Fundac fez uma varredura em uma mata no Alto do Mateus e depois para a área da Ilha do Bispo, bairro vizinho.

O suspeito, Jefferson Luís Oliveira Soares, só veio a ser detido após três meses do desaparecimento da estudante, no dia 8 de abril de 2013. Ele se parecia com o retrato falado feito por uma prostituta, com quem a polícia encontrou o celular de Fernanda. Jefferson tentou fugir ao ver a mulher, que faria o reconhecimento, e foi detido.

Fernanda Ellen foi morta por estrangulamento após o suspeito tentar conseguir dinheiro para consumir drogas. De acordo com a confissão, Jefferson Soares, de 25 anos, manteve o corpo da menina durante dois dias embaixo de sua cama até conseguir oportunidade de enterrá-la no quintal de casa, enrolada na piscina de plástico da sua filha.

A estudante não tinha dinheiro, apenas o celular, que foi trocado por cinco pedras de crack.

A Polícia Civil e a Polícia Militar iniciaram escavações em busca de um corpo, no mesmo dia. Apesar da confissão, o corpo encontrado estava em alto estado de decomposição e só foi comprovado que o corpo encontrado era realmente de Fernanda Ellen, através da análise da arcada dentária e da reconstrução facial, realizado pelo Instituto de Polícia Científica (IPC) da Paraíba.

O corpo da estudante foi liberado pelo IPC no final de abril quando foi sepultado 112 dias depois da data do desaparecimento. A cerimônia, que teve um culto e homenagens, foi curta devido ao estado em que o corpo foi encontrado.

O resultado do julgamento saiu em setembro do mesmo ano do crime. Jefferson Soares foi condenado a 31 anos de prisão em regime fechado pelo crime de latrocínio, roubo seguido de morte. A juíza Anna Carla Falcão entendeu que o acusado matou a estudante para roubar o celular dela, por isso ele não foi a júri popular, como acontece nos casos de homicídio.

Jefferson foi ouvido por juíza nesta segunda-feira (22) — Foto: Walter Paparazzo/G1

Ligações falsas durante a investigação

Após o desaparecimento, a família da Fernanda disponibilizou números para informações que ajudassem a encontrar a garota. Nos primeiros dias foram cerca de 100 ligações afirmando saber o paradeiro da estudante. Das muitas ligações, algumas foram trotes, mexendo com o emocional da família e dificultando o trabalho da polícia.

Entre as muitas ligações, pessoas afirmaram à polícia terem visto a estudante no bairro José Américo, Centro e Tambaú. Todas eram falsas.

Mesmo assim, a polícia não tratava essas ligações como trote. “São pessoas que acham que realmente viram a menina, com base nas características físicas e trajes dela”, explicou o sargento Heriberto Farias, da Unidade de Polícia Solidária do bairro Alto do Mateus.

Mobilização

Na primeira semana do desaparecimento, familiares, amigos e vizinhos da estudante realizaram uma carreata em protesto aos trotes com informações falsas do paradeiro da menina. A carreata saiu do Alto do Mateus, onde a garota morava, em direção ao Centro, em João Pessoa.

Um grupo de pessoas fez uma mobilização, no Busto de Tamandaré, em protesto pela falta de informações sobre a investigação após três meses do desaparecimento. O grupo também esteve na Assembleia Legislativa da Paraíba durante uma audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico Internacional de Pessoas.

Empresários chegaram a oferecer R$ 20 mil por informações que ajudassem a solucionar o desaparecimento das estudantes Fernanda Ellen e Rebeca Cristina, encontradas em um matagal em Jacarapé.

 

 

G1

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