Processo contra professor da UFPB que usou camisa do MST em sala de aula é arquivado

21 set 2023 - Paraíba

Luciano Bezerra Gomes, professor da UFPB — Foto: Arquivo Pessoal/Luciano Bezerra Gomes

O processo administrativo aberto na Ouvidoria da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) contra um professor uma camisa do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em sala de aula foi arquivado. A denúncia contra Luciano Bezerra Gomes, de 43 anos, professor do curso de Medicina e coordenador do mestrado em Saúde Coletiva do Centro de Ciências da Saúde da UFPB, também apontava o uso de slides com a logomarca do MST nas aulas, considerando o ato como “propaganda política”.

No despacho emitido, nesta quarta-feira (20), o ouvidor Hermann Atila indicou falta de materialidade apresentada na denúncia, como o uso de slides com logomarcas do MST, o que motivou a abertura do processo.

O parecer também apontou a inexistência de uma orientação explícita ou código de vestimenta que os professores devem seguir ao se vestir para ministrarem aulas do curso de medicina.

Ao final, o ouvidor recomenda que seja sugerido aos docentes “se apresentarem com vestimentas que não possam produzir conflitos dessa natureza novamente”.

Parecer da Ouvidoria da UFPB em relação ao processo contra o professor Luciano Bezerra Gomes. — Foto: Ouvidoria/UFPB/Reprodução

Parecer da Ouvidoria da UFPB em relação ao processo contra o professor Luciano Bezerra Gomes. — Foto: Ouvidoria/UFPB/Reprodução

O professor questiona as recomendações finais da Ouvidoria, já que no mesmo parecer o ouvidor afirma não ter definição do que seria o uso adequado de vestimentas nas normas.

“A quem ele recomenda isso? O processo em questão (ou o cargo dele) não lhe dá autoridade para recomendar qualquer coisa que seja sobre o tema”, afirma.

Denúncia

A denúncia foi oficialmente protocolada em 31 de agosto de 2023 e o parecer do órgão diz que não há “elementos de materialidade sobre a suposta denúncia”, mas admite a presença de “elementos mínimos descritivos”. Destaca que é obrigação da UFPB “corrigir atos e procedimentos incompatíveis” de seus servidores e chega a sugerir que o CCM “realize ‘medidas de gestão’ para corrigir e evitar o cometimento de falhas por parte do servidor público”.

Luciano Bezerra Gomes, além de professor do curso de Medicina, coordena um projeto de extensão aprovado pela própria UFPB, com a presença de estudantes bolsistas, que realiza apoio ao setorial de saúde do MST na Paraíba. Inclusive, o projeto realiza atividades de campo em assentamentos e acampamentos e utiliza transporte da universidade em tais atividades acadêmicas.

O professor explica que tem, sim, camisas do MST e que as usa regularmente, mas que isso se configura em “manifestação pessoal” e em “ação de cidadania” de sua parte.

“Uso as camisas do MST como manifestação individual de apoio ao movimento e nunca elas serviram para constranger ninguém. Eu poderia usar uma camisa dos Médicos sem Fronteiras, poderia usar uma com a inscrição ‘Salve o Povo Yanomami’. Mas uma do MST só repercute por causa desse processo de criminalização dos movimentos sociais”, destaca o professor.

UFPB abre processo contra professor que usou camisa do MST em sala de aula

Posicionamento da UFPB

Em nota divulgada pela assessoria da UFPB, o Reitor Valdiney Gouveia afirmou que a Ouvidoria recebe denúncias por meio da plataforma FalaBr e a abertura do processo é parte de um sistema que assegura a manifestação a qualquer cidadão. A Ouvidoria estaria vinculada à Reitoria apenas no plano administrativo, porque possui autonomia plena e atribuições definidas pelo SISOUV, tendo apenas subordinação de assessoria ao Consuni (Conselho Superior).

O órgão tem a responsabilidade, ao receber a demanda, levantar elementos mínimos descritivos de presumível ato ilícito, informar ao interessado e, se for o caso, endereçar o processo às autoridades competentes para o juízo de admissibilidade.

Em entrevista ao programa à Rádio Arapuan, o reitor defendeu, em posicionamento pessoal, que não existe ilegalidade no ato do professor, mas reiterou que não será responsável por julgar a conduta.

“Desde logo, se ele estiver usando uma camiseta com independentemente do slogan, com independentemente da informação, eu entendo que não há qualquer ilegalidade nisso, mas não serei eu que irá julgar. Como eu já disse, Reitoria e Ouvidoria funcionam de forma independente”, afirmou o reitor.

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